sábado, 10 de maio de 2008

O Zé na Imprensa 08


Curta vida de Zé do Caixão

Enio Greco - Estado de Minas

Lançado em 1969, para concorrer com o Ford Corcel, o Volkswagen 1.600, de quatro portas, foi produzido por dois anos. Exemplar de colecionador preserva originalidade


Numa época em que a indústria automobilística nacional quase só produzia carros pequenos ou grandes, a Volkswagen resolveu investir em um segmento intermediário, no qual a Ford já tinha o Corcel, lançado em 1968.


O Volkswagen 1.600 estreiou em 1969 e era basicamente o Fusca, com carroceria de quatro portas e linhas mais retas, motor traseiro e um pequeno porta-malas na frente. O modelo parecia interessante, mas não agradou como se esperava e sua produção foi encerrada no ano seguinte.


Ele ficou conhecido como Fusca quatro portas e Zé do Caixão, nome do personagem imortalizado pelo ator e diretor de filmes de terror José Mojica Marins. Mas por que um apelido tão fúnebre? Há quem diga que, devido às linhas feias, muito retas, a imagem do carro foi associada à de José Mojica. Outros diziam na época que as maçanetas das quatro portas lembravam alças de um caixão.


O fato é que o modelo não deu certo. Atualmente, é possível ver alguns VW 1.600 rodando pelas ruas, mas poucos impecavelmente conservados como o que pertence ao vice-presidente do Veteran Car Club de Minas Gerais, o médico Otávio Pinto de Carvalho. Ele preserva o exemplar que pertenceu a sua mãe, Lourdes Pinto de Carvalho. Comprado por ela em 1969, o VW 1.600 foi durante muitos anos seu fiel meio de transporte.



Restauração


Depois da morte de dona Lourdes, em 1996, o carro passou de mão em mão na família e acabou indo parar em uma garagem de sítio, onde ficou anos abandonado. Mas, ano passado, Otávio resolveu restaurá-lo.


Foram feitos serviços de lanternagem e pintura e a cor original, vermelho-cereja, foi mantida. A revisão mecânica foi feita na Martha Veículos, de Cláudio Vidigal, que já era o responsável pela manutenção do carro desde os tempos em que pertencia à dona Lourdes.Internamente, o VW 1.600 não precisou ser restaurado e preserva toda a originalidade.


Os bancos são revestidos em napa preta, e apenas a parte superior do painel precisou ser restaurada, pois já estava queimada e trincada.


O painel, aliás, é um detalhe interessante do modelo, pois é revestido por um material que imita madeira e abriga um volante fino de baquelite, com um aro de buzina cromado e (no centro) o escudo de São Bernardo do Campo, imagem comum nos modelos da marca na época. O painel tem ainda o rádio original VW, além de instrumentos VDO, como um pequeno relógio redondo.


Otávio chama a atenção para alguns detalhes do modelo, como o reservatório de água do limpador de pára-brisa, que precisa receber pressão de ar comprimido para funcionar. Além disso, o carro tem um pequeno dispositivo junto ao banco traseiro, usado para abrir a tampa do compartimento do motor na traseira.


O porta-malas na frente não é dos mais espaçosos.


Até adesivo


O motor é o mesmo 1.600 usado no Fusca, com um carburador e 60 cv de potência máxima. Otávio se esmerou tanto na restauração que mandou fazer um novo adesivo, que fica no filtro de ar, com os seguintes dizeres: "Troca de óleo a cada 2.500 quilômetros ou diariamente, em caso de muita poeira". É que na verdade o filtro de ar do modelo usa óleo para reter as impurezas.


O câmbio é de quatro marchas e o sistema de freios conta com tambor nas quatro rodas.


O carro tem ainda escapamento duplo na traseira, opcional na época. O original era lateral, pouco solicitado.O VW 1.600 de 1969 tem ainda como características marcantes as calotas cromadas e os faróis retangulares, diferentes dos quatro redondos usados no modelo de 1970.


Otávio lembra ainda que o carro teve uma versão luxuosa, com pintura do tipo saia e blusa (duas cores) e acabamento interno mais sofisticado. Quanto ao insucesso do VW 1.600 na época, o colecionador acredita que o modelo teve que enfrentar a concorrência pesada do Ford Corcel.


Além disso, tinha algumas características que desagradavam, como as linhas da carroceria, o porta-malas pequeno, as quatro portas e o excesso de ruídos do motor.


Então por que investir na restauração de um modelo que tem um passado sem glamour? Otávio explica que, primeiramente, por motivo sentimental, já que o carro pertenceu a sua mãe. Segundo, por se tratar de um dos modelos que foram produzidos exclusivamente no Brasil, como a Brasília, o Puma e o SP2. Ele acredita que vai chegar um momento em que esses carros terão seu valor reconhecido no mercado de antigos.


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